O técnico Mano Menezes entrou para a rede social Twitter. Pode não parecer grande coisa à primeira vista. Mas é. Isso porque, em poucas horas, ele se tornou o primeiro candidato brasileiro do ramo do esporte a virar fenômeno (sem referências ao atacante do Corinthians) no microblog.
Nos Estados Unidos, o Twitter é febre entre astros do esporte. Virou canal de comunicação direto entre ídolos e fãs. Muitas vezes, notícias em primeira mão chegam aos usuários do site muito mais rápido por ali do que por qualquer outro meio. Contadas diretamente pela fonte.
Isso põe em discussão os modelos de comunicação e de tráfego de informações atuais.
O pivô Shaquille O'Neal, do Phoenix Suns, é o mais famoso entre os twitteiros nos EUA. Ele tem mais de 600 mil seguidores (pessoas que acompanham oficialmente o que ele publica) e costuma atualizar sua página dezenas de vezes por dia. Faz até promoções do tipo gincana em tempo real e distribui prêmios --diz onde está, por exemplo, e distribui ingressos aos primeiros que o encontrarem.
No mês passado, o Twitter fez com que o ala Charlie Villanueva virasse celebridade instantânea depois de o jogador do Milwaukee Bucks twittar em pleno no intervalo de uma partida da NBA e levar bronca do técnico. Ele não escreveu nada demais. Algo como: "No vestiário, escondido para postar. Contra os Celtics, jogo empatado, no intervalo. Técnico quer firmeza. Preciso melhorar".
Como ele próprio afirmou depois de ser repreendido, não foi muito diferente de um jogador que para por um minuto para dar entrevista a uma TV no intervalo do jogo. Mesmo porque o Twitter só permite textos com no máximo 140 caracteres.
Diante dessa história, Shaq anunciou, por meio do próprio Twitter, é claro, que também iria twittar no intervalo de um jogo. Antes de enfrentar o Washington Wizards, dia 21 de março, foi questionado por repórteres sobre seus planos no microblog. Fez apenas sinal de silêncio, levando o dedo indicador à boca. No intervalo, uma nova postagem apareceu em sua página: "Shhhhhhh". Besteira. Mas emblemático.
O técnico não reclamou. Mesmo porque, com seus 13 pontos naquela noite, o twitteiro se tornou o quinto maior cestinha da NBA, com 27.411 até então.
Voltando ao Brasil, ainda não é muito comum por aqui que jogadores e técnicos, de futebol ou de outros esportes, usem o Twitter --pelo menos não com o mesmo sucesso.
O Fred, atacante do Fluminense, é um dos poucos jogadores mais conhecidos que tem um Twitter reconhecido como oficial. Mas ainda tem poucos seguidores (150 até as 20h de quinta). E atualiza pouco a página.
Mas o caso de Mano parece ser diferente. A página foi ao ar na madrugada de quinta. No "Globo Esporte" da própria quinta-feira, eu soube da existência do perfil do treinador, anunciado pelo apresentador Tiago Leifert. Entrei na página. Mano tinha, naquele momento, por volta das 13h, exatamente 17 seguidores.
A própria Folha Online noticiou a estreia do site oficial e do Twitter oficial do técnico logo em seguida, às 13h20. Eram, então, 53 seguidores. Por volta das 15h, já eram mais de 300. Às 20h30, mais 900 pessoas já haviam se inscrito para acompanhar Mano. E o número continuava subindo sem parar. Para quem lê agora, pode ter certeza de que já passou bastante de 1.000 (passou de fato: às 11h40 de sexta, 1.800).
Em seu último post até a tarde de quinta, Mano se espantou com a repercussão (texto original, sem alterações): "Esse negócio já está dando oq falar: Tiago Leifert começou, dpois foi a FolhaOnline... só hj, já são mais de 300 'seguidores'. Valeu, gente!", escreveu.
Talvez Mano abra uma nova era para os esportistas brasileiros. Novos ídolos deverão seguir o exemplo.
Mas duas coisas são importantes para isso funcionar. Em primeiro lugar, espera-se que ele tenha de fato algo a dizer ali, que possa trazer novidades, coisas interessantes, e que tenha certa regularidade. Não adianta nada ter o twitter por ter, só para constar. Mas como já percebeu a força da ferramenta, duvido que o Mano dê pouca atenção a isso.
Segundo, seria interessante também que ele próprio escrevesse --e não sua assessoria de imprensa. Porque muitas celebridades americanas pagam ghostwriters ou têm equipes para atualizar seus perfis em diversas redes sociais, como Britney Spears e 50 Cent. Aí não tem graça.
Como disse o próprio Shaquille O'Neal ao "New York Times": "São 140 caracteres --pouquíssimos. Se você precisa de um ghostwriter para isso, sinto pena de você".
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Fonte: Folha On Line
Data de publicação: 17/04/2009