Diz que trabalhar em São Paulo era o maior passo a dar nesse momento da carreira. Sonha com a Liga Inglesa, admite. Até estuda inglês para não fazer feio quando -- ou se -- lá chegar. Terá um longo caminho pela frente em 2008. Vem para tentar repetir algo que marca sua trajetória como treinador: a reconstrução de um time. Foi bem mais difícil no Grêmio de 2005, que começava a segunda divisão com dificuldades para levar 18 profi ssionais para um jogo. No Corinthians, já teve direito a 14 contratações.
O time que está formando não é nenhum primor de técnica, como aliás nenhum time que dirigiu até então. Por isso, Mano insiste em treinamentos físicos nesse começo de temporada. Quer uma equipe que não perca na corrida para ninguém.
E não venham com trocadilhos com seu nome ou comparações baratas. Ele é gaúcho, sim, mas não é o novo Scolari. “Não imponho uma verdade tática. Mesmo porque, se o jogador tiver outra verdade, no momento decisivo, vai optar pela sua. Tento mostrar que a minha é melhor.”
Mudou a comissão técnica. Mudaram os jogadores. Mudaram os dirigentes. Mudou até o patrocinador. Mas é o respeito que o treinador conquistou nos últimos dois anos -- e que agora traz ao Parque São Jorge -- que faz a torcida falar em um “novo Timão”. Confira nas próximas páginas como navega o barco corintiano sob nova direção.
Nau Corintiana
Novo comandante, com tripulação renovada. O vento parece soprar a favor do timão para atravessar os mares revoltos da Série B
O COMANDANTE
Quando Mano chegou, estavam recrutados Rafinha e Lima. Todos os novos marujos foram indicados ou aprovados por ele. Mano só não conhecia o zagueiro Suárez. Mas chamou de “uma oportunidade de mercado”. Ele navega com homens de confiança. Remem!
O TIMONEIRO
William. O zagueiro com quem Mano trabalhou no Grêmio é um subtécnico e seu homem de confiança. Tem bom nível cultural, entende de futebol e sabe o esquema de cor. É o único jogador com quem o chefe aparece em público conversando, o tempo todo. Sua primeira missão é segurar Coelho e André Santos, acostumados
ao 3-5-2.
A TRIPULAÇÃO
Mano não teve dúvida em começar pela defesa, velho calcanhar-de-aquiles corintiano. O goleiro Felipe foi o segundo melhor na Bola de Prata ano passado, assim como Coelho na lateral direita (sua permanência é pedido do técnico). Chicão foi o sexto melhor zagueiro e William, o nono. André Santos foi o quarto melhor lateral-esquerdo.
A ESTRUTURA
Em 2007, tudo girava em torno de vices de futebol folclóricos como Rubens Gomes, o Rubão, e Antoine Gebran. Ainda há os cartolas “crias da casa” (há um vice de futebol, dois diretores e um gerente), mas foi contratado um diretor remunerado para cuidar de aspectos técnicos: Antônio Carlos. É claro que eles batem cabeça, mas melhorou.
A ROTA
Mano chegou pensando em jogar no 4-2-3-1. Mas Marcel e Acosta naufragaram em suas missões originais. O time já atuou no 4-4-2 e até no 3-5-2.
QUEM SAIU
Marcelo (G), Betão (Z), Marinho (Z), Zelão (Z), Cadu (Z), Fábio Braz (Z), Edson (L), Iran (L), Gustavo Nery (L), Vampeta (V), Ricardinho (V), Moradei (V), Aílton (M), Clodoaldo (A), Wilson (A) e Júnior Negão (A)
QUEM CHEGOU
Valença (Z), Chicão (Z), Cristian Suárez (Z), William (Z), Coelho (L), Alessandro (L), André Santos (L), Perdigão (V), Ricardo Bóvio (V), Fabinho (V), Marcel (M), Rafinha (M), Lima (A), Acosta (A) e Herrera (A)
O OURO
Mesmo com a chegada de Mano (230 000 reais por mês), o clube informa que economiza 15% em relação ao que gastava em 2007. Felipe e Acosta têm os maiores salários: 90 000 reais.
Mano a mano
O técnico do Corinthians fala sobre seu novo clube, mas também sobre o Grêmio e o início no futebol. Você achou que já sabia tudo a respeito dele?
Quando Luiz Antônio Venker Menezes virou Mano?
O Mano começou em casa. Quando nasci, minha irmã disse que tinha nascido o mano. Joguei futebol com esse apelido. Depois, quando me tornei técnico, acrescentei o sobrenome, afinal técnico tem que ter certa pompa, né? [risos]
Que nota você dá pro Mano jogador de futebol?
Nota 7.
Hoje você teria mais facilidade para jogar?
O futebol está melhor de jogar, mais tático. E eu tinha exatamente essa característica. Me preocupava muito com a parte tática, até para compensar minha condição técnica, que não era tão diferenciada...
Falando então de treinadores: o que mais lhe agrada em Felipão e Vanderlei Luxemburgo?
Tenho alguma coisa de Luxemburgo e também de Scolari. Sou um treinador tático, que procura traçar estratégias para cada confronto. Geralmente, minhas equipes fazem poucas faltas, como as do Vanderlei. E também gosto muito de grupo, de trabalhar algumas questões, como o Felipão sempre fez com os seus jogadores. Tê-los muito próximos e estar sempre preocupado com o que eles podem estar pensando, para que todos sigam na mesma direção.
O que foi para você a Batalha dos Aflitos?
Foi o maior jogo de que já participei na minha vida. Talvez a palavra certa nem seja “maior”, mas certamente foi a partida mais extraordinária em termos de acontecimento. Nunca vi e provavelmente não vou ver uma equipe com sete jogadores vencer outra que esteja com 11. Passar pela situação dos dois pênaltis durante o jogo, toda aquela pressão, vestiário trancado, sem condição de trabalho...
Por que você não determinou marcação individual em Riquelme no duelo Grêmio x Boca, na final da última Libertadores?
Sempre me perguntam isso. O Riquelme é um cara para se fazer marcação individual, porque ele é o cérebro do time. Mas na época a gente não tinha ninguém com características para fazer isso. Eu, particularmente, acho possível fazer uma marcação por zona e bem feita. O Riquelme é tão inteligente que se você fizer uma marcação individual ele vai pegar o seu marcador e vai levar para o canto do campo. E vai jogar. Perdemos para o Boca porque o Boca foi melhor que o Grêmio.
E o Valdívia? É caso de marcação individual?
Provavelmente, quem fizer marcação individual nele vai tomar um amarelo aos 15 minutos e ser expulso aos 30. Mas o Adriano, do Santos, fez uma boa marcação. O São Paulo fez com o Zé Luiz. Muitos outros não conseguiram. O Sport fez marcação individual no Valdívia? Não. E venceu.
Por que a opção pelo Corinthians, que disputa a série B do Brasileiro?
Todo técnico de ponta do futebol brasileiro já trabalhou, trabalha ou vai trabalhar em São Paulo. E a oportunidade de iniciar um trabalho no Corinthians se colocava muito à feição nessa hora, exatamente pela queda do time. Quando um clube passa por esse processo — e eu vivenciei isso no Grêmio —, ele vai estar mais preparado para você começar um novo trabalho, com novos valores. De modo geral, isso é muito bom para o técnico.
Tivesse o Corinthians permanecido na primeira divisão, você acha que teria sido contratado?
Acho que, se não tivesse caído, o Corinthians teria o Nelsinho [Baptista] como técnico.
E como você avalia o semestre corintiano?
De modo geral, classifico o trabalho como bom. A idéia que se tinha em Itu, no início da temporada, era que o trabalho seria difícil na primeira parte, mas que na reta final do Paulista nós iríamos lutar por classificação entre os quatro. E foi o que aconteceu. Faltou um detalhezinho para chegar lá. O time já está aprendendo a ser forte em momentos decisivos, como no segundo jogo contra o Goiás, pela Copa do Brasil. Nós temos uma missão desde que iniciou a temporada: conduzir o clube à série A. Essa é a prioridade do ano, nossa obrigação na temporada.
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Fonte: Revista Placar
Data de publicação: 02/2008